O contexto geopolítico daqueles dias está marcado pela ascenção de um poder que se imporá aos babilônios. Isso já havia sido anunciado por Isaías, em uma profecia contra os babilônios: “Vejam, despertarei contra eles os medos”. Babel será destruída como foram Sodoma e Gomorra (Isaías 13.17-19). Agora, no novo momento em que o povo de Deus se encontra, séculos depois, uma voz anuncia que Deus “suscita do leste” uma força que realizará isso (Isaías 41.2; 41.25).
No debate com os ídolos, um argumento tem sido de suma importância. “Aproximem-se, expliquem-nos o que está acontecendo!” Mostrem-nos o sentido dos acontecimentos passados, digam-nos como eles vão se desdobrar no futuro, anunciem-nos o que está vindo (Isaías 41.22-23). Se são deuses, devem poder fazê-lo. O Deus Uno, o Deus verdadeiro, não só “planejou e executou” os acontecimentos (41.4), mas também os anunciou já há tempo (41.26).
Mas a ação mais importante de Deus não se mede por esses acontecimentos ostensivos da esfera pública. O senhorio de Deus sobre os acontecimentos visa permitir que através deles se realize Seu grande propósito com a humanidade. E isso não se consegue com poder político ou militar. “Eis aqui o meu servo” (Isaías 42.1). Ele “é sustentado por mim”, é “o meu escolhido”, dele “a minha alma se agrada”. “Coloquei sobre ele o meu Espírito”, para que ele realize o meu propósito: “trazer o direito aos povos” (42.1). Em meio a tantas expressões que sempre correm risco de ser sequestradas pelo discurso religioso, é importante dizer e repetir que o propósito maior de Deus é “trazer o direito aos povos”. Porque Ele sempre de novo diz e repete.
Seu servo “não desanimará, não desistirá até que se implante o direito na terra” (42.4). O “direito” não é algum aparato jurídico já existente por aí, é um dos pilares que sustentam o universo. E que por isso deve encontrar expressão adequada nos aparatos jurídicos das nações. Seu critério maior é a “justiça”. O servo de Deus não alardeará sua missão. Faz parte da justiça a consideração com o fraco e o vulnerável. “Não gritará, não erguerá a voz, não faz ressoar nas ruas a sua voz” (42.2), como fez o porta-voz do império em Jerusalém (Isaías 36.4-20). A missão do servo tem menos a ver com barulho e fumaça do que com a “voz silenciosa” que no Sinai iniciou um novo tempo na história do povo de Deus.
O servo “não esmagará a cana quebrada, não apagará o toco de vela que fumega”. O que o guia é “a verdade”, e é em função dela que ele “trará o direito” (42.3). Longe de serem um elemento estranho no mundo que Deus criou, a verdade e o direito são uma aspiração profunda da humanidade e de toda a criação. Sem alarde, “povos distantes esperam por sua Instrução” (42.4).
Dia 86 – Ano 2