“Vejam, as primeiras coisas se cumpriram. Agora lhes falo de coisas novas. Antes de elas brotarem, já as anuncio a vocês” (Isaías 42.9). As profecias dadas através de Isaías se cumpriram. O povo de Deus foi julgado e condenado, e teve seu tempo de “serviço coletivo” no cativeiro. Agora Deus anuncia “coisas novas”, cujas sementes já estão plantadas. Antes que brotem, o Senhor já as anuncia. Para que Israel aprenda o que deixou de aprender no tempo das “primeiras coisas”. Para que o povo de Deus aprenda que, tanto antes como agora, “se não confiarem, não serão firmados” (Isaías 7.9).
Na fé que é concretização daquilo que se espera, o povo já pode se alegrar e louvar o seu Deus. “Cantem ao Senhor uma canção nova, cantem o Seu louvor desde os confins da terra” (Isaías 42.10). Israel é convidado a se juntar ao louvor entoado pelo povo de Deus em toda parte (42.10-12). Louvor pela vinda de Deus, acompanhada por sinais visíveis (42.13-15). Os cegos serão guiados, verão a luz (42.16). Israel tem sido cego (42.18-20). Um povo que “vê muitas coisas, mas não enxerga” (Isaías 42.20). “Cegos, olhem, para que enxerguem!” (42.18). O cego que se volta para o lugar certo tem seus olhos abertos. O Servo se fez cego para que os cegos venham a enxergar (42.19).
Israel foi entregue a saqueadores (42.24). Pelo próprio Deus, “contra quem pecaram, e não quiseram andar em Seus caminhos, e não quiseram ouvir Sua instrução”. O Senhor “deu livre curso à Sua indignação” (42.25). O boi sabe, o jumento sabe, mas Israel não sabe (Isaías 1.3), o povo de Deus insiste em não saber, em não aprender (42.25). Insiste em “não colocar no coração” tudo que se passou, as “primeiras coisas”. O anúncio da libertação, o anúncio de “coisas novas” é mensagem de esperança, que o povo de Deus precisa “colocar no coração”. “Saber” aqui é um saber com o coração. Um saber que é interiorizado e se torna uma verdade pessoal, antes mesmo de se realizar como acontecimento exterior.
A relação entre “saber” e “ver”, que temos aqui, é importante para a narrativa bíblica como um todo. Desde Adão e Eva, cujos olhos “se abriram” e com isso passaram a não ver mais (Gênesis 3.7). A serpente tinha dito a eles que “seus olhos se abririam” (Gênesis 3.5), e o que aconteceu foi que o abrir foi um fechar! Desde então os humanos estão “cegos”, mesmo quando acham que enxergam. O profeta Isaías foi chamado para “fechar os olhos” de um povo que insiste em não querer ver (Isaías 6.9-10). Mesmo que isso represente um julgamento, uma condenação, é graça, é salvação. Fechar os olhos para uma ilusão que consideramos realidade, é possibilidade de abrir os olhos para a verdadeira realidade. Para isso o Servo se fez cego (Isaías 42.19). Cego para a falsidade, cego para os ídolos, cego para a cegueira que acha que enxerga bem. E com isso pôde trazer luz e visão ao seu povo e a todos os povos.
Dia 89 – Ano 2