Ciro, o rei persa, está representando nesse momento histórico a ação de Deus. Tanto que o texto vê os próprios povos derrotados reconhecendo isso. Os que confiaram em ídolos perceberão seu engano. Perceberão que o que causaram a si próprios foi mau cheiro e vergonha. Já Israel, nunca mais vai cheirar mal e passar vergonha, porque será salvo pelo Senhor com salvação eterna.
Porque assim diz o Senhor, que criou os céus. Ele é o Deus que formou a terra, que a fez e que a firmou. Não a criou para ser vazia, para ser habitada foi que a formou. Eu, o Senhor, e ninguém mais. O poder de Ciro corre o risco de ser absolutizado e idolatrado, como qualquer poder humano. Por isso a insistência em deixar claro o poder que está por trás desse poder humano. Só Deus fez os céus e a terra. Só Deus os firmou de modo que possam cumprir o que lhes está previsto. Quanto à terra, Deus não a criou para ser vazia. A palavra tôhu, “vazia”, remete ao relato da criação em Gênesis 1.2, onde a terra é descrita como “um vazio sem forma”. Nela, Deus forma uma multidão incontável de seres, entre os quais nós.
Realmente, Tu és um Deus que se esconde, Deus de Israel, Salvador! Em meio às suas palavras, o profeta irrompe em louvor e admiração. É da essência dos ídolos aparecer, ser visível, localizável. Uma grande tentação em Israel sempre foi ter que lidar com as acusações de ter um deus que ninguém enxerga. Um deus assim convida a não ser crido nem cultuado. Pois, nem se sabe se ele de fato existe. Talvez por isso, também, a insistência no Livro de Isaías em relativizar o que olhos e ouvidos vêem e ouvem, e insistir em que é preciso uma mudança de perspectiva para realmente poder enxergar as coisas como são em Deus.
Um Deus que se esconde pode ser um convite à tentação, ainda mais quando comparado a deuses tão solidamente visíveis como os que são representados pelos ídolos. Desde a transgressão no paraíso, os humanos são levados a se basear no que enxergam. O problema é que perdem de vista o mais importante da realidade. Para ver esse “mais importante” é preciso fé, insistirá sempre de novo a narrativa bíblica, a fé que é estar convicto daquilo que não se vê. Um Deus que se esconde pode nos parecer contraintuitivo. E é. Justamente para despertar em nós uma intuição que vai além das intuições geradas pelos sentidos. Um Deus não visível e não localizável, pode à primeira vista ser uma dificuldade. Mas pode também representar uma imensa expansão de foco. Um Deus que se esconde é, por definição, um Deus presente. O que não existe, não poderia se esconder! Vai ver, quando Deus se esconde Ele tem em vista algo muito importante que precisamos aprender.
Dia 101 – Ano 2