Não foi em algum lugar escondido que Eu falei, em algum canto de uma terra de escuridão. Não disse aos descendentes de Jacó: Procurem-me no vazio! Eu, o Senhor, falo o que é justo, falo o que é certo. A revelação do Deus que se esconde não se deu em algum lugar escondido!
Quando Deus criou os céus e a terra, não havia “lugares”. A terra era um vazio sem forma. E quando Ele falou, e por Sua fala fez surgir tudo que existe, o que Ele criou não ficou escondido. Os próprios lugares são criação divina. Portanto, não há lugar em que Ele não esteja e não possa ser encontrado. À vista disso, os ídolos praticamente somem, de tão insignificantes que ficam. Os ídolos são “menos que nada” (Is 41.24). O máximo que poderiam pretender é fazer parte do vazio indiferenciado de antes de a Palavra soar e criar o universo.
Não é nesse vazio que o Deus de Israel deve ser procurado. Onde então? “Por toda a terra se faz ouvir o seu eco, até os confins do mundo as suas palavras” (Sl 19.4), o eco e as palavras silenciosas com as quais a criação proclama a glória de Deus. O Deus que criou todos os lugares pode e quer ser encontrado em todos os lugares. O lugar em que o Deus que se esconde fala, nunca é um lugar escondido, sempre é um lugar que é Dele, e que naquele momento, para quem está ouvindo, é o próprio centro do universo. E ali Sua fala quer e deve ser percebida como justa e certa. Dos ídolos se pode duvidar que o que se afirma que eles dizem, seja justo e certo. O Deus de Israel, o Senhor de todos os seres, é Ele próprio o Justo e o Certo. Por isso, tudo que Ele diz e faz é justo e certo, mesmo que nós tenhamos, às vezes, dificuldade em perceber isso de imediato.
Juntem-se e venham, aproximem-se, refugiados das nações… Olhem para mim e serão salvos, todos os confins da terra. Como a criação divina abrange todos os espaços, também o povo de Deus se encontra em todos os lugares. Onde houver um ser humano, ali está Deus e ali ressoa o convite: Olhem para mim e serão salvos. Porque Eu sou Deus, não há outro. Por isso, todo joelho se dobrará em reverência a mim, toda língua jurará, todos dirão: Só no Senhor há justiça e poder.
Quando se confunde “poder” com “poder”, facilmente se pode chegar a ler um texto como esse de um jeito autoritário, imperialista. Numa leitura assim, os joelhos podem se dobrar por serem subjugados, talvez à força. E o juramento pode ser de obediência imposta, como tiranos costumam impor. E uma leitura assim pode passar por “bíblica” para muitos. É por isso que sempre de novo Deus concentra em Si todo o poder. E isso feito, nos mostra numa longa narrativa o que significa esse poder, e como reconhecê-lo. Seu poder é “justo” e “certo”. Certo, por mostrar o caminho certo entre tantas possibilidades. Justo, porque nele se expressa a justiça que é fundamento da Sua criação e de tudo que Ele faz.
Dia 102 – Ano 2