Começa aqui uma sequência de 6 “ais” que vão de Isaías 5.8 a 22, que mostram a seriedade da canção sobre a videira em 5.1-7. A seriedade das infrações do direito e da justiça, pilares do universo, por parte do povo de Deus. “Ele espera o direito, e vejam: derramamento de sangue! Justiça, e vejam: gritos de dor” (5.7). Cada “ai” que segue revela um aspecto disso. Um sétimo “ai”, que deve ser incluído na lista, aparecerá em Isaías 10.1-4.
“Ai dos que juntam casa a casa, que emendam campo a campo” (Isaías 5.8). O direito de todos os israelitas a uma terra onde possam trabalhar e sustentar a família é um marco na Instrução divina. Com o desejo dos israelitas de ser um povo como todos os outros, vieram as mazelas dos arranjos sociais e econômicos que desconsideram este cuidado de Deus por cada pessoa e cada família, e dão rédea solta às ambições egoístas, ao desejo de ser mais e ter mais que os outros, e às inúmeras formas de desigualdade que isso gera. A prosperidade econômica de Judá e Jerusalém, nessa época, acabou nas mãos de uns poucos. Mas isso traz consigo a condenação divina: casas vazias e terras de baixa produção (5.9-10).
O segundo “ai” atinge os que levantam de madrugada e ficam até tarde da noite, não trabalhando (Salmos 127.2) mas levando uma vida de festa (Isaías 5.11-12). Mas isso traz consigo a condenação divina: exílio, fome, morte (5.13-14). “O ser humano é diminuído, as pessoas aviltadas” (5.15, como já em 2.9). Quem se eleva indevidamente, embriagado pelos bens acumulados e o status que eles trazem, verá chegar o momento em que o direito e a justiça divinos se imporão (5.16), derrubando toda altivez.
O terceiro “ai” é contra os que “puxam a iniquidade para si com cordas de injustiça” (5.18) e desafiam o Criador (5.19). O quarto atinge “os que chamam o mal de bem e o bem de mal, que declaram a escuridão luz e a luz escuridão” (5.20). O quinto é contra os que se acham sábios e inteligentes, não sendo nem um nem outro (5.21). O sexto é contra os que são valentes com o dinheiro ganho por inocentar o perverso e negar justiça ao justo (5.22).
Uma lista e tanto. Inquieta que essas denúncias possam ser lidas por gente que nelas incorre sem que, subjetivamente, se sintam culpadas. O problema sempre seriam os outros. À perversão do direito e da justiça no plano das relações humanas e sociais, é acrescentada a perversão do direito e da justiça no plano das percepções e dos conceitos. É costume no pensamento bíblico que numa lista com 7 itens, o item central, o quarto, é o que define com maior clareza e profundidade o cerne da questão. Aqui ele se encontra em Isaías 5.20, o “ai” sobre “os que chamam o mal de bem e o bem de mal, que declaram a escuridão luz e a luz escuridão”. Essa inversão de bem e mal, luz e escuridão, faz com que não se saiba mais quem é Deus, o ser humano e o mundo. Que bem e mal deixem de ser valores em comum, fundamentos do direito e da justiça em qualquer sociedade. Quando se faz da luz escuridão, se reverte a boa criação divina. Quando se faz da escuridão luz, se cria um novo mundo baseado na falsidade e na ilusão.
Dia 16 – Ano 2