Da conversa de Deus com a Filha de Sião, o texto passa direto a uma fala do Servo de Deus, que à primeira vista parece mudar de assunto. Mas não. O Servo dá um testemunho pessoal, e a cena o coloca como representando o povo, como alguém dá uma resposta certa, entre as várias que naquele momento os israelitas estão dando.
O Servo se mostra alguém que reconhece e preza o senhorio de Deus em sua vida. As quatro ações principais em 50.4-9 são atribuídas a o Senhor meu Senhor. Ele é o Senhor sobre a minha boca, Ele é o Senhor sobre os meus ouvidos. Ele me ajuda, Ele me ajuda.
O Senhor meu Senhor concede ao Servo capacitação para falar e para ouvir como um discípulo. A palavra limudím é usada em Is 8.16 para se referir aos discípulos de Isaías, chamados a guardar as palavras do profeta e da Instrução, e preservá-las para gerações futuras. Séculos depois, em meio ao cativeiro na Babilônia, o Servo fala de sua capacitação para ser um discípulo, um dos que recebem e transmitem as palavras proféticas. Naquele momento, o povo tinha necessidade de alguém que soubesse dizer uma palavra ao cansado. Alguém que se libertasse das prisões do cotidiano, e que manhã após manhã se dispusesse a ouvir como um discípulo.
Temos visto que, quando nesses textos se fala do Servo, a referência primária é a uma figura que tem realidade no coração de Deus. O Servo é o espelho no qual deve se espelhar “o Servo”, o povo de Deus que, juntos, formam uma comunidade espiritual chamada a basear sua vida e sua missão na figura do Servo.
O Servo se dispõe a deixar-se despertar por Deus todas as manhãs, para aprender a ouvir. Ouvir a Instrução e a palavra profética. Ouvir as pessoas e o mundo à sua volta, ouvir o clamor e o gemido dos cativos (Ex 2.23-25), ouvir o gemido da criação tornada cativa (Rm 8.22-23). E aprender a dizer uma boa palavra aos cansados. Faz parte do discipulado aprender a andar numa escuridão total confiando em Deus, e assim poder ajudar a outros.
Dia 114 – Ano 2