Isaías 51.1

Isaías 51.1

Ouçam-me! Assim começa o texto. A gente se acostuma tanto com certas palavras, que praticamente já não as ouve. Uma delas é essa. Importante por si só, mas mais importante ainda quando quem está falando é Deus.

Vimos como o Servo se dispõe a deixar-se despertar por Deus todas as manhãs, para aprender a ouvir. Ouvir a Instrução e a palavra profética. Ouvir as pessoas e o mundo à sua volta, ouvir o clamor e o gemido dos cativos (Ex 2.23-25), ouvir o gemido da criação tornada cativa (Rm 8.22-23). Aprender a ouvir é uma arte, nos dizem. Pois os textos bíblicos o confirmam. Aprender a ouvir é parte importante de aprender a dizer uma boa palavra aos cansados.

Ouçam-me, vocês que lutam pela justiça, vocês que buscam o Senhor! Há um vínculo estreito entre “buscar o Senhor” e “lutar pela justiça”. Olhem para a rocha da qual vocês foram retirados, para o poço do fundo do qual foram escavados! Quando pensamos em nós, naquilo que somos, às vezes nos reportamos às nossas origens familiares, uma ou duas gerações para trás. Às vezes nos associamos também ao grupo étnico do qual fazemos parte. E às vezes também ao marco religioso e cultural no qual nos inserimos. E certamente isso tudo é, de alguma forma, parte da nossa identidade.

O que a palavra de Deus aqui está nos dizendo é que nossa identidade, na verdade, vem de bem mais longe. Todos somos como pedras que vão sendo moldadas pelo passar dos anos. Pedras que, na origem, são parte de uma grande rocha da qual foram retiradas. Deus é celebrado, especialmente nos Salmos, como uma Rocha firme e elevada, que representa estabilidade e segurança. Aqui Ele é celebrado como estando na origem do nosso ser, o Ser firme e estável a partir do qual somos constituídos entidades próprias.

Uma segunda imagem reforça a primeira. Deus é o poço do fundo do qual vocês foram escavados. A mensagem é a mesma. Talvez com um aspecto a mais. O “fundo do poço” é, para nós, uma imagem de depressão, de exaustão, de não conseguir mais continuar. Quem já não se sentiu como o salmista, cujo gemido ressoa: “Das profundezas clamo a Ti, Senhor!” (Sl 130.1). Pois no fundo do fundo do poço, está Deus. E é de lá que viemos.

Dia 115 – Ano 2