A vocação profética de Isaías parece estar sob um sinal eminentemente negativo. Quando ele pergunta: “Até quando, Senhor?” (Isaías 6.11), a resposta é: até que tudo esteja destruído. O relato termina, porém, com um pequeno sinal de esperança: que um toco de árvore permaneça, pois a semente é santa (6.13).
Em Isaías 7, nos encontramos em meio às turbulências geopolíticas daqueles dias. No reinado do neto de Uzias, Acaz, acontecimentos começam a requerer a presença ativa do novo profeta na vida pública em Jerusalém. O rei da Síria e o rei de Israel tramam para subverter a ordem em Judá, buscando fortalecer seus interesses conjuntos na região. Um exército é despachado para sitiar Jerusalém (7.1). As razões são expostas em 7.5-6: derrubar o rei e colocar no trono alguém que seja subserviente, forçando Judá a se aliar a eles, provavelmente para tentar deter uma invasão assíria que já se deixa entrever no horizonte.
Em meio a isso, Deus manda Isaías ao encontro do rei Acaz para aconselhá-lo. A mensagem se contrapõe ao pânico do rei e do povo: “Cuidado, calma!” (7.4). “Não tenha medo” desses dois restos de tocha fumegante (os reis da Síria e de Israel). A palavra de Deus para o momento é: “Não se realizará, não acontecerá” (7.7), seguida de uma previsão quanto ao futuro não muito promissor desses dois reinos (7.8-9). Acaz e o povo de Judá tem que aprender, nesse momento, uma lição de fundamental importância para o povo de Deus, mesmo e talvez justamente em meio à turbulência. “Se não confiarem, não serão firmados” (7.9). Em hebraico há um jogo de palavras difícil de expressar em outra língua: im lô taamínu, ki lô teamênu, as duas palavras principais não só soam parecido, mas são da mesma raiz. Firmar-se em Deus leva a ser firmado por Deus.
Num momento em que o coração do rei e do povo está agitado como as árvores do bosque pelo vento norte (7.2), a palavra profética é: “Calma”, “confiem”. Talvez mais fácil de dizer do que de fazer. O que confere peso e urgência a essa palavra é a possibilidade do seu reverso. Não confiar significa “não ser firmado”, ser abalado, talvez até “não subsistir”. Esse nexo entre “confiar” e “ser firmado” aponta para a importância da “fé” na narrativa bíblica. O tema não é novo, por certo. Num momento crucial da narrativa, Abraão, quando ainda era Abrão, “confiou no Senhor” (Gênesis 15.6), confiou na promessa e na aliança que Deus lhe propôs. E assim tanto a promessa como a aliança permaneceram firmes. O hebraico aman representa uma relação, incluindo dois lados. A imagem básica é de confiança e estabilidade. Quando o movimento da relação é do ser humano em direção a Deus, significa “confiar”, “crer”. Quando é de Deus em direção ao ser humano, significa “dar firmeza”, “dar sustentabilidade”.
Dia 19 – Ano 2