O desafio e o teste para o rei Acaz e o povo de Judá e Jerusalém é: confiem em Deus, e continuarão firmes (Isaías 7.9). Como o momento é delicado, Isaías propõe a Acaz que ele peça um sinal que o ajude a confiar em Deus (Isaías 7.10-11). Acaz rejeita, não querendo confundir “pedir sinal” com “tentar” Deus (7.12). Isaías se irrita, e responde que Deus mesmo dará o sinal. “Veja: a jovem engravidará e dará à luz um filho, e lhe darás o nome de Emanuel (immanu el, Deus conosco)” (7.14). Esse versículo tem estado no foco de ásperas polêmicas. No ambiente judaico há uma tendência a disparatar os cristãos por criarem um dogma a partir de uma tradução considerada errada. A palavra almá, (“jovem”, talvez “jovem dada em casamento”) é traduzida na Bíblia grega por parthénos, “virgem”. O que foi interpretado por cristãos como se referindo à virgem Maria, mãe de Jesus. Cristãos podiam argumentar também que a tradução grega não é cristã, é judaica, e já existia muito antes do cristianismo.
No contexto judaico, isso acabou ajudando para que a tradução grega da Bíblia (a Septuaginta) fosse sendo deixada de lado, dando lugar a um movimento purista e dogmático que absolutizava o texto hebraico como único legítimo. No contexto cristão, a necessidade que se sentia de formular doutrinas que ajudassem a unir e estabilizar o jovem cristianismo levou a uma radicalização dogmática desse texto, de uma forma que o texto hebraico, pelo menos, não parece corroborar. Que fazer?
Se a interpretação bíblica, em ambos os contextos, se concentrasse mais nos movimentos e no propósito maior da narrativa bíblica, tais surtos de fixação e dogmatização da letra, gerados mais por reações negativas do que por alguma necessidade real, poderiam ter sido evitados. Bem como uma longa história de animosidades recíprocas, que sempre de novo contribuíam e contribuem para o desrespeito, o anátema e mesmo o ódio entre dois ramos do mesmo povo de Deus.
Na sequência da profecia dada por Isaías ao rei Acaz, é dito que o menino que irá nascer “comerá coalhada e mel, para aprender a rejeitar o mal e aderir ao bem” (Isaías 7.15). Uma palavra enigmática. O texto segue dizendo: “Porque antes que o menino tenha aprendido a rejeitar o mal e aderir ao bem, a terra (…) será deixada abandonada” (7.16). Igualmente enigmático.
Como já havia sido anunciado por Isaías, a indignação de Deus com Seu povo daria lugar a invasões estrangeiras (Isaías 5.25-30), sem mencionar quem seriam esses invasores. Agora (Isaías 7.17-25), egípcios e assírios são nomeados. A estrutura desse trecho ajuda a compreender a sua mensagem. Duas falas de juízo (7.17-20 e 7.23-25) rodeiam um núcleo central (7.21-22) que contém uma promessa. A terra será invadida e por fim deixada ao abandono. Mas o “pequeno toco” que sobrar, o “resto” que ficar na terra, terá um destino bem diferente do dos “dois restos de tocha fumegante” (os reis da Síria e de Israel). Em sua pobreza, ele experimentará abundância de proteção e bênção. Coalhada e mel serão para todos, não só para o menino da promessa (7.22; 7.15). E a promessa de aprender a “rejeitar o mal e aderir ao bem” (7.15).
Dia 20 – Ano 2