Isaías 8 começa com uma espécie de charada. Deus diz a Isaías que escreva algumas palavras numa placa: lemahêr shalál hásh baz. Cada uma dessas palavras, por si só talvez fosse entendida por quem leria. Mas as quatro juntas continham uma mensagem que só vai se aclarar na sequência dos eventos. Em português, seria algo como “depressa despojo rápido espólio”. A coisa toda é tão solene que é feita diante de testemunhas (8.2).
Na sequência, o profeta relata que teve relações com “a profetisa” e ela engravidou e deu à luz um filho, cujo nome foi dado por Deus: Maher Shalal Hash Baz (8.3). Quase um ano deve ter passado entre a escrita na placa e o nascimento do menino. “Antes que o menino saiba dizer papai ou mamãe, a riqueza de Damasco e os bens de Samaria serão levados ao rei da Assíria” (8.4). Síria e Israel, os inimigos que tanto pânico causam em Judá e Jerusalém, serão em pouco tempo conquistados pelos assírios, essa parece ser a mensagem da placa e do nome do filho.
A presença assíria na região não deixará de afetar negativamente o próprio reino de Judá. Essa parece ser a mensagem de Isaías 8.5-8. O medo diante dos reis da Síria e de Israel não se compara ao sentimento que acompanhará a enxurrada assíria. O exército assírio será como as águas impetuosas do rio Eufrates que transbordam por todas as margens. O riacho de Siloé (8.6), que corre mansamente, fica perto de Jerusalém. O tema aqui parece ser não se deixar impressionar pelas aparências. Como Elias havia aprendido no Monte Horebe, Deus pode não estar no impressionante e no impactante, e sim numa voz silenciosa e mansa. Perceber isso e confiar, é o que o povo de Judá e Jerusalém precisa aprender nesse momento.
Isso é proclamado, agora, aos “povos distantes” (8.9). “Cingir-se” é firmar o cinto para entrar em ação. Impérios invasores, sobre os quais Isaías vem alertando, podem planejar à vontade, seus grandes projetos serão frustrados quando chegarem à pequena Judá. Ki immanu el, “pois Deus está conosco” (8.10).
Essa mensagem é assegurada, agora, ao próprio profeta, também ele sujeito a se deixar levar pelas aparências. “O Senhor me advertiu a não andar nos caminhos desse povo” (8.11). Que caminhos perigosos são esses? Como a sequência do texto vai mostrar, de novo nos deparamos com o tema da comunicação que falseia a verdade. Chamar bem de mal, e mal de bem. Apresentar luz como escuridão, e escuridão como luz. O povo de Deus tem sido desencaminhado, já não se sabe quem Deus é e onde encontrá-Lo, já não se sabe o que distingue o povo de Deus dos outros povos. Ou, pior, se acha que Deus é o que Ele não é. Se crê que o povo de Deus seria distinto dos outros povos naquilo em que ele não é distinto, e igual aos outros naquilo em que ele não deveria ser igual. E para complicar mais ainda as coisas, o povo está sendo levado a chamar de “conspiração” o que não é conspiração (8.12).
Dia 21 – Ano 2