Os textos bíblicos não cansam de repetir que a terra foi “dada” por Deus ao Seu povo. Por outro lado, o Livro de Josué conta uma história atrás da outra, de como os israelitas tinham que se armar e conquistar a terra, palmo a palmo. E todo o esforço da conquista nunca iludiu os sábios em Israel. De fato, a terra lhes tinha sido dada por Deus.
Essa dinâmica entre o agir de Deus e a disposição humana de ser parte deste agir, nem sempre foi bem compreendida. Aqui uma lógica humana, boa para se estudar e compreender muitos aspectos do mundo e da vida no mundo, se mostra deficiente. E a insistência em seu uso pode até prestar um mau serviço.
Uma das características importantes da história da reconciliação é que reconciliação não é só resultado. O próprio processo tem que ser, já, expressão de reconciliação. Compreender isso, é compreender uma das chaves teológicas mais importantes para a leitura da Bíblia. Houve, há reconciliação? Esse é o critério último em muitas discussões sobre o sentido de textos bíblicos. Discussões que acabam virando debates teológicos que podem chegar a causar divisões no povo de Deus.
Deus deu a terra aos israelitas. Mas a deu através do empenho deles. Assim, Deus e a humanidade foram se reconciliando no caminho, passando a trabalhar juntos, quando antes estavam separados e se antagonizavam.
Josué 6 mostra isso bem, e inclusive na própria estrutura narrativa. A história toda é contada já nos primeiros versículos (6.1-5), nas palavras de Deus a Josué. Depois ela é contada de novo, detalhadamente, do ponto de vista da sua concretização (6.6-21). A nota final, sobre a prostituta Raabe (6.22-27), que havia salvo os batedores israelitas (capítulo 2), também é profundamente reconciliadora, em mais de um sentido. Ela mostra mais inequivocamente o coração de Deus do que muitos relatos de batalha que virão a seguir.
Dia 190 – Ano 1