O Livro de Juízes engata direto na história do Livro de Josué. “Depois da morte de Josué” (Juízes 1.1), os israelitas retomam a conquista da terra. Os primeiros capítulos de Juízes deixam claro que ela nunca se completou. Estes capítulos são como que perpassados por um refrão sombrio e ameaçador. Com pequenas variações, ele diz: “os cananeus conseguiram continuar habitando esta terra (1.27; cf. 1.19,21). Juízes 1 termina (v.29-34) com uma pequena lista deles.
Já temos falado sobre a dupla perspectiva dos textos bíblicos. A história da tomada da terra de Canaã pelos israelitas a ilustra bem. Por um lado, ela é relatada em perspectiva realista, realçando feitos positivos, mas deixando claro os aspectos negativos. Nesse ponto, aliás, a literatura bíblica destoa um pouco da literatura de outros povos da época, que tendiam a enfatizar e a exagerar os dados positivos de sua história. Os textos bíblicos sabem não se iludir acerca de sua realidade. Mas sabem também, e talvez justamente por isso, vê-la na perspectiva da esperança, que ousa falar do que se espera como já presente, e com isso renova forças para a realização das esperanças.
Esse jeito de narrar a história pode se tornar um bom exemplo para as revisões de nossas próprias histórias de vida. A esperança deixa espaço para a auto-crítica, e a visão retrospectiva consegue detectar pontos que podiam ter sido percebidos melhor. E assim o ontem pode ensinar o hoje e o amanhã.
Com o Livro de Juízes começa um período na história que pode ser visto como um tempo bom, em que os israelitas eram independentes e livres, comandados diretamente por Deus. Quando era preciso, o Espírito de Deus animava alguém a puxar a frente e resolver situações difíceis. Depois essa pessoa, geralmente, ficava exercendo alguma forma de liderança, mesmo que não houvesse um governo central. Esses líderes carismáticos se tornaram conhecidos como “juízes”.
Já outras passagens falam desse tempo com apreensão. Essa parece ser a tônica dominante na narrativa do Livro de Juízes, que vai apontando para uma gradual decadência do povo, como ainda veremos.
Dia 206 – Ano 1