No capítulo anterior vimos como se inicia um longo período na história dos israelitas, aqui relatado como uma espécie de biografia dos primeiros tempos de Israel no meio dos cananeus. Como descrito em Juízes 2.11-23, a história vai avançando em forma de ciclos de desobediência, opressão, libertação, paz, nova desobediência.
Juízes 4 começa contando de mais um ciclo. Depois da morte do juiz Eúde (4.1), os israelitas “voltaram a fazer o mal diante dos olhos do Senhor”. As próximas fases do ciclo também são relatadas. “O Senhor os entregou na mão de Jabim” (v.2), que os oprimiu duramente (v.3). Eles “clamaram ao Senhor” (v.3). E aí somos apresentados a uma das heroínas do Livro de Juízes: Débora (v.4).
Débora era “profetisa” e também “juíza” (v.4-5). Ela manda chamar Baraque, apresentado no v.6. Débora tinha recebido instruções de Deus (v.6) sobre uma ofensiva militar contra os cananeus. Tanto Baraque (que devia ser um líder importante) como o próprio narrador atribuem a essa mulher uma posição e um papel que normalmente achamos que só era desempenhado por homens. O relato tematiza isso só de passagem (v.9), o que pode inclusive indicar que nem era algo tão excepcional. Textos como este abrem janelas que iluminam relações de gênero que permeiam os textos bíblicos, para além do seu contexto específico.
As ações militares, e seu sucesso, são relatadas nos v.10-16. Sísera, comandante do exército inimigo, consegue fugir de Débora, mas só para cair na mão da segunda heroína deste episódio: Jael (v.17). Jael era mulher de um queneu (v.11). Isso abre uma segunda janela importante: as relações com não-israelitas não eram marcadas só por hostilidades, como uma leitura superficial da narrativa bíblica poderia sugerir.
A ação de Jael é relatada nos v.17-24. O trecho termina com uma nota de esperança. Mais ações como estas (v.24), nem todas relatadas tão por extenso, levam ao fim da opressão a que os israelitas tinham sido submetidos, e ao restabelecimento da paz. Que não é só a condição de ausência de guerra e de opressão, mas a vivência integral do shalom, não só em Israel, mas em toda a criação divina.
Dia 210 – Ano 1