Juízes 9 trata de Abimeleque, o filho de Gideão anunciado no capítulo anterior (Juízes 8.31). Seu nome significa “meu pai é rei”. Seja o que for que o nome quer dizer exatamente (vimos que Gideão se recusara a ser rei), ele é um indício de que os israelitas estavam começando a achar que os problemas que viviam podiam ser melhor resolvidos com uma mudança de sistema político.
As esperanças que a narrativa tinha depositado em Abimeleque logo são frustradas. Para chegar ao poder, ele manda matar todos os seus irmãos (Juízes 9.1-6). Só o menor conseguiu escapar, Jotão (v.5). E é ele que profere a fábula dos v.9-15, que ele mesmo expõe logo a seguir (v.16-20). Ela contém uma crítica à monarquia. Na sua perspectiva, as melhores árvores (oliveira, figueira, parreira) não querem saber de reinar sobre as outras, porque estão ocupadas produzindo coisas boas. Já o espinheiro, que não produz nada, justamente por isso pode pensar em “entrar para a política”. A única coisa que um espinheiro pode produzir é um incêndio devastador (v.20).
O restante do capítulo confirma as previsões pessimistas de Jotão. A história termina numa situação tão lamentável como quando começou. Quando a gente lê hoje histórias como essa, ficamos pensando por que razão elas se encontram na Bíblia. Parece haver pouco a aprender com elas. Deus está sumido, só aparece no fim (v.56-57) para assegurar que o mal seja pago, e que assim ele não se alastre de forma descontrolada. Textos como esse nos ensinam de um jeito tipicamente bíblico: mostrando o reverso, o lado escondido. Eles são como a luz que brilha sobre as pessoas (João 3.19-21), mostrando aquilo que elas escondem, talvez bem fundo em sua alma.
E a paciência de Deus é certamente o aspecto mais edificante dessa história. Sem ser nomeada no texto, ela o percorre de um lado a outro. Geração vai, geração vem, e a paciência de Deus parece não ter limites. Também entre nós, em nosso mundo de hoje.
Dia 215 – Ano 1