Levítico 12 nos coloca diante de uma daquelas situações em que não há escolha: o cotidiano traz, sempre de novo, impureza. Gerar filhos era quase uma missão de vida para as mulheres na época. Não poder ter filhos era um grande problema. Mas o parto deixava a mulher “impura”, “como nos dias da sua menstruação”, diz Levítico 12.1. Quer dizer, se a mulher gerasse, ficaria impura; se não gerasse, também. E aí vinha toda uma sequência: o resguardo, a apresentação diante dos sacerdotes, os sacrifícios e/ou oferendas do ritual de purificação, lavar ou purificar tudo aquilo em que tinha tocado durante os dias de “impureza”. Quando tudo tinha terminado, era questão de dias e começaria tudo de novo. Isso sem contar o desgaste físico e emocional normal dessas situações.
Quando lemos textos como esse, ajuda fazer um exercício de se afastar um pouco e olhar de alguma distância, para poder enxergar o todo. Para os israelitas da época, também, esse todo tinha que ser e era constantemente rememorado (como mostram os Salmos), para que pudesse ser interiorizado e se tornar uma coisa do coração, e não só costume. O todo, a questão de fundo dessas leis, é que a partir delas o cotidiano dos israelitas passou a ter relação com Deus. Da madrugada ao por do sol, o dia a dia agora era visto em sua relação com o divino. Uma importante lição.
De uma vida integrada à vida de Deus, como era no começo, na criação, no Jardim, as pessoas passaram a uma vida separada de Deus. No caso dos israelitas, como vimos no Livro de Êxodo, a maioria sequer se lembrava mais de Deus. Havia uma certa religiosidade, certamente um vestígio de Deus no cotidiano, mas isso estava longe daquilo que Deus quer para os Seus filhos e filhas. O grande propósito em toda essa regulamentação do cotidiano é educar as pessoas para que as coisas possam ir se tornando de novo como no começo: que nossa vida diária seja integrada à vida de Deus.
Dia 101 – Ano 1