A questão de fundo de todas essas leis é: os israelitas iam aprendendo a regular seu cotidiano na perspectiva de sua relação com Deus. E por que deste jeito tão “carnal”? Porque é assim mesmo que é para ser. A relação com Deus é coisa do ser humano inteiro, e isso inclui a rotina diária, nossa existência corporal concreta. E isso os israelitas tinham, agora, oportunidade de aprender.
Levítico 13 trata de uma doença relativamente comum e muito séria, na época: a lepra. O que nestes textos se chama “lepra” inclui o que hoje chamamos de hanseníase, e também outros tipos de inchaços, erupções, inflamações (tanto em pessoas como em roupas e até em casas) que eram entendidos como expressão do mesmo princípio. Como se tratasse, pela experiência deles, de uma doença contagiosa, as providências tomadas eram bastante radicais. A humilhação pela qual as pessoas tinham que passar, a vida desumana que eram obrigadas a levar dali em diante (cf. Levítico 13.45-46), não entravam tão claramente no horizonte, nessa época. Como ainda veremos, o coração de Deus em relação a isso será revelado lá mais adiante, quando Ele se fizer carne, como nós, e tratar os “leprosos” com um carinho todo especial (como mostrarão diversas histórias dos Evangelhos).
No momento, as situações são encaradas do ponto de vista daquilo que afeta o povo todo. O tratamento das questões leva em conta os recursos concretos, tanto físicos como de consciência, disponíveis. Da perspectiva dos indivíduos, às vezes eles, de fato, são deixados para trás. Quando lemos esses textos hoje, não deveríamos simplesmente passar ao largo disso. O espírito que anima a narrativa bíblica anima também a esperança de que, de alguma forma, os indivíduos desfavorecidos nessas situações tenham sua dignidade (e sua vida) resgatada. Ler os Evangelhos desde esta perspectiva, nos mostrará aspectos do coração de Deus que talvez só lá vão aparecer mais claramente. Mas se lemos com atenção, vamos perceber que esse espírito anima também os textos que estamos lendo.
Dia 102 – Ano 1