Levítico 20 contém leis diversas, enunciadas quase sempre segundo um mesmo esquema: “se alguém fizer isso ou aquilo, será punido”. A punição é quase sempre com a morte. O enunciado varia: “será morto”, “o seu sangue cairá sobre ele”, “será eliminado”. Se considerarmos os crimes aqui alistados com critérios de hoje, tenderemos a achar os julgamentos excessivamente severos.
Em primeiro lugar, temos que levar em conta que o que está em vista é a integridade do tecido social. Ele se constrói de formas diferentes em diferentes épocas, e também é mantido de formas diferentes. Aí não dá para ser dogmático, simplesmente transferindo critérios pontuais de uma sociedade e época para outra. Em segundo lugar, temos que levar em conta que a integridade do tecido social está intimamente relacionada à religião. Posturas religiosas diferenciadas levam a percepções e comportamentos sociais diferenciados. E os israelitas, no tempo em que a narrativa bíblica situa esses conjuntos de leis, estão passando por uma “conversão” e reconfiguração religiosa.
Os israelitas estão passando pela experiência de serem separados do mundo em que vivem (que é o que quer dizer “santificação”, Levítico 20.26). Deus os separou dos outros povos (20.24). Na interiorização desse processo, eles devem aprender a fazer distinções (20.25). Aqui vale sempre de novo: quando lemos esses textos, temos que observar o todo, bem como o movimento subterrâneo que anima a narrativa. Ela tem diante dos olhos uma multidão de formação complexa (Êxodo 12.37-38) com forte tendência a, por qualquer coisa, deixar tudo virar um caos. É essa multidão que estas leis e instruções querem organizar e disciplinar, e para isso às vezes haveria que ser mais duro do que se seria normalmente, numa sociedade mais estável.
Dia 109 – Ano 1