No capítulo 23 vimos a importância das festas no calendário e na espiritualidade israelita. Elas sinalizavam os tempos mais importantes do ano de trabalho, rememoravam eventos que marcaram a história do povo, e eram vivências de encontro, de reconciliação. As pessoas esperavam e se preparavam para elas.
Dentro da sequência narrativa do texto bíblico, que estamos acompanhando, a última “festa do Senhor” (Êxodo 32.5) não tinha sido exatamente algo que os israelitas lembrariam com carinho. Nela, comandados por Arão, eles tinham feito um bezerro de ouro, ao qual adoraram e atribuíram a libertação do Egito. E na última ocasião em que o povo e seus sacerdotes tinham celebrado com alegria a presença de Deus em seu meio (Levítico 9.24), dois dos filhos de Arão fizeram o que não tinha sido ordenado (Levítico 10.1-2), pagando o erro com a vida.
A razão disso é que a Tenda da presença divina é o lugar da terra em que se vive já agora o mundo vindouro, o mundo como é no começo, o paraíso. Por isso, ali deve prevalecer a Palavra de Deus, que cria o mundo e mantém sua ordem. A transgressão desse limite trouxe ao primeiro casal humano a perda do paraíso. A história bíblica desde então representa uma nova oportunidade para os humanos aprenderem a viver reconciliados com seus limites e, assim, com o mundo.
Por isso são tão importantes as instruções que lemos aqui, referentes ao azeite do candelabro (Levítico 24.1-4) e ao pão que ficava sobre a mesa (24.5-9), no Lugar Santo, dentro da Tenda. O texto quer transmitir uma sensação de “ordem”, esta é sua principal mensagem. O relato que segue (24.10-23), que começa contando como dois israelitas brigaram e um deles “blasfemou” durante a briga, ilustra isso pela via contrária. Diferenças entre pessoas (24.10), são sentidas como ameaça. E se acaba amaldiçoando a Deus (24.11).
Dia 112 – Ano 1