O último capítulo do Livro de Levítico parece acrescentado mais tarde, depois do fecho representado pelo cap. 26. Pode até ser, mas é importante perceber as razões que podem ter levado a isso. O seu tema são os “votos”. Votos, não no sentido eleitoral, mas no sentido de desejos em relação aos quais se assume compromissos.
Vários tipos de votos são tratados aqui. A palavra hebraica néder não tem em primeiro lugar o sentido subjetivo que às vezes associamos à palavra “voto”, como fazer um voto a Deus para que livre de algum mal, alguma doença. É mais parecido com votos de um tipo mais objetivo e até permanente, como são, por exemplo, os “votos monásticos”. Os votos podem se referir a pessoas (Levítico 27.2-8), pessoas “consagradas” a Deus para sempre ou por algum tempo. Por exemplo, 1 Samuel 1.9-28 conta a história de Ana, que pede a Deus um filho que “votará” a Deus caso seja atendida (o filho será Samuel, importante personagem bíblico). Votos podem se referir a animais (Levítico 27.9-13), a casas (27.14-15), terras (27.16-25). Dízimos (27.30-33) pertencem automaticamente a Deus. Em todo o capítulo há um sistema de avaliação e (possível) resgate cujos detalhes são dados, mas cuja lógica não é bem clara para nós.
A mensagem de fundo aqui poderia ser que coloquemos o nosso dia a dia, tudo que somos, temos e que nos acontece, em relação com Deus e com Sua presença amorosa e cuidadora. Nossas necessidades, nossos desejos mais profundos, nosso passado, nosso futuro, nossa vida. Tudo “dedicado irremissivelmente ao Senhor” (Levítico 27.29). Assim fazendo, nada perdemos, mas tudo ganhamos.
Levítico 27.34 faz um desfecho que engloba desde Êxodo 20 até aqui: “São estes os mandamentos que o Senhor ordenou a Moisés para os filhos de Israel, no monte Sinai”. Os mandamentos fazem parte do processo pedagógico de Deus com o povo escolhido. Seu objetivo maior não é “colocar sob o jugo da lei” depois de ter libertado do “jugo” do Egito, e sim assegurar e aprofundar a liberdade em nível pessoal e social.
Dia 115 – Ano 1