A leitura de Levítico 1 pode ter deixado algumas pessoas indignadas. O capítulo trata de violência em relação a animais. É a questão dos “holocaustos”, o nome que o texto bíblico dá aos sacrifícios de animais quando inteiramente queimados. Violência sancionada pelo próprio Deus, que aparentemente tinha prazer nela (cf. a repetição da frase “aroma agradável ao Senhor”, Levítico 1.9,13,17). Quem lê a Bíblia hoje, e justamente quem procura lê-la no espírito que a anima, de amor e reconciliação, não pode deixar de se confrontar com estas questões. Como conciliar amor e reconciliação com violência, aparentemente ordenada pelo próprio Deus? Esta é uma questão das mais importantes, se queremos compreender o papel do livro de Levítico na história bíblica.
Tentemos escutar com atenção o que dizem os textos. Eles começam com frases parecidas: “Quando alguém trouxer oferenda ao Senhor…” (Levítico 1.2; 2.1; 3.1). Trazer oferendas à divindade era muito comum nas religiões antigas. Quando os israelitas aderiram ao Senhor, no Egito, suas oferendas passaram a ser feitas a Ele (mesmo com recaídas, como a história do bezerro de ouro). Num primeiro momento, Deus se adapta a isso. Faz parte de Sua pedagogia.
Mas esta adaptação já introduz sutis mudanças, que dão uma nova direção a todo o sistema sacrificial. É como o desenho de um ângulo. A ponta do ângulo junta duas linhas, que depois vão se afastando à medida em que o ângulo vai se abrindo. Assim é com a conversão que está se dando nos israelitas. A linha vinha numa direção, agora chega na ponta e começa a ir na direção contrária. No começo quase não dá para ver diferença!
Dia 93 – Ano 1