Os primeiros 7 capítulos de Levítico trazem orientações detalhadas sobre sacrifícios e oferendas de vários tipos. Como vimos, trata-se de um costume religioso que Deus respeita e ao qual se adapta, mas reconfigurando-o em aspectos importantes. Estas reconfigurações são como ângulos, cujos vértices ou pontas representam uma virada, uma conversão. Aos poucos, então, uma coisa nova vai surgindo. Assim funciona a pedagogia divina. Geralmente Deus não tira uma coisa, deixando o lugar vazio (cf. a advertência sobre isso em Mateus 12.43-45), mas opta por ir gradualmente e amorosamente transformando a partir da raiz.
Concluída essa primeira rodada de instruções para as relações religiosas, vem agora a consagração dos sacerdotes que irão oficiá-las. Os capítulos 8 a 10 de Levítico mostram uma cuidadosa “transmissão de comando”. Os primeiros passos do ritual de consagração são presididos por Moisés (Levítico 8). Na presença de todo o povo (8.3-5), ele intermedia a ação de Deus: lava os escolhidos para o sacerdócio (8.6), e veste Arão com as vestes sacerdotais (8.7-9). Depois, consagra o altar e tudo que faz parte dos ritos que se farão sobre ele (8.10-11). Aí, consagra Arão e seus filhos para o sacerdócio (8.12-13). A consagração é feita através de unção com óleo especialmente manipulado para essa ocasião. Então vem os sacrifícios que purificarão tudo que está envolvido nos ritos (8.14-25) e oferendas (8.26-29). Finalmente temos o rito de passagem para o início das funções sacerdotais (8.30-36).
Ao lermos e estudarmos tudo isso, é importante distinguir dois pontos de vista. O de Deus, que preside e está por trás de tudo, e o dos humanos que presidem e/ou participam de tudo. O que se enxerga e o que se pretende, pode ser bastante diferente. Deus olha longe. Tudo isso é meio pedagógico para que o povo possa, lá adiante, compreender e levar aos povos a reconciliação divina. Já o ponto de vista humano pode ser míope, lento, demorado para captar a perspectiva divina. E aí os ritos religiosos acabam sendo usados para tudo que é propósito, e às vezes só raramente refletem o coração amoroso de Deus.
Dia 97 – Ano 1