Problemas relacionados à liderança continuam, como vemos aqui em Números 12. E o problema aqui é grave. Dois irmãos (Arão e Miriam) falando mal do outro (Moisés). Não temos muitas informações sobre o que levou a isso (Números 12.1 diz que foi por causa “da mulher etíope” de Moisés). A questão é que isso levou a um questionamento da autoridade espiritual de Moisés (v.2).
Deus defende Moisés, em palavra (v.4-8) e ação (v.9-10). Miriam fica leprosa. Arão confessa o pecado e suplica ao irmão que a cure (v.11-12; notem que Arão pede a Moisés, não a Deus; agora ele reconhece a autoridade espiritual do irmão). Moisés roga a Deus que a cure (v.13), e Deus ordena que Miriam fique de quarentena por uma semana (V.14-16).
“Quem dera todo o povo de Deus fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Seu Espírito”, havia dito Moisés (Números 11.29) ao futuro líder Josué. Reconhecendo que a organização hierárquica era uma necessidade conjuntural, não permanente. Assim ela deve ser tratada, nem menos mas também nem mais.
Esta história fala também sobre outro tema importante: como vemos nosso próximo, nosso irmão ou irmã, e como falamos dele ou dela. Exemplificado no jeito com que as pessoas vêem Moisés. O narrador o elogia (v.3), vendo nele um anav, que poderíamos hoje traduzir como “pessoa espiritual”, no sentido integral do termo. Deus também o elogia. O segredo desta espiritualidade está na intimidade com Deus e na fidelidade a Ele (v.7-8). Já os irmãos de Moisés se fixam na “mulher etíope”, que parece escandalizá-los tanto que só conseguem ver o irmão sob esse prisma. E aí o que Deus e o narrador elogiam, desaparece da vista.
A questão maior, aqui, é aprendermos a olhar as pessoas como Deus as vê. Moisés é “o servo de Deus” (v.8). O livro de Isaías vai dizer que todo o povo é “servo de Deus”. Como é que se pode falar mal de um dos amados de Deus? E quando isso acontece, isso nos indigna tanto como a Deus?
Dia 127 – Ano 1