Na história que lemos no capítulo anterior, temos uma ilustração daquilo que já notamos várias vezes no decorrer da nossa leitura. A narrativa vai colocando lado a lado duas imagens do povo de Deus. Uma é como ele é no coração de Deus. A outra é como ele é “de verdade”, diríamos nós. A pergunta que fica é: qual é a verdade sobre o povo de Deus? Como Deus o vê, ou como nós o vemos? Passando a pergunta para outro plano: a verdade sobre nós mesmos, é como nos vemos com os olhos da fé ou com os olhos da carne?
A Bíblia quer nos ensinar a ver tudo com este “duplo olhar”. O olhar da fé permite uma olhada na profundidade das coisas, vendo-as como são na realidade. Ele é até mais “realista” que o olhar “normal”, mas isso justamente porque ele faz ver as coisas à luz da realidade divina. Que significa, do nosso ângulo, à luz da esperança. Faz ver o nosso amanhã, que é como Deus já nos vê hoje.
Números 13 contém mais um ensaio sobre esse duplo olhar, ou sobre a nossa cegueira. Doze homens são enviados para espiar a terra que os israelitas iriam invadir, com a missão de fazer um levantamento completo das possibilidades e das chances de sucesso (Números 13.17-20). É uma missão importante. Cada um deles é anunciado pelo nome (13.1-16). Eles vão e voltam.
As atenções se concentram nos relatos. O do narrador é neutro (v.21-26), reportando os fatos. Já o “G12” se divide. O relato que representa a maioria vem primeiro (v.27-29): a terra “mana leite e mel”, sim, mas é hora de cair na real: é areia demais para o nosso caminhãozinho. Calebe, que com Josué representa a voz discordante, tenta transmitir confiança (v.30), mas os outros já tinham decidido que não iria dar (v.31) e passam a falar mal da Terra Prometida (v.32-33). Enquanto só enxergarmos o que está à nossa frente, na superfície, reagiremos de acordo com a nossa própria superfície. A Bíblia quer nos ajudar a exercitar um novo olhar.
Dia 128 – Ano 1