O clima já é de tomada da terra. As vitórias militares vão dando experiência e confiança. Para nós se coloca, neste ponto, uma questão crucial, à qual não podemos ser simplesmente indiferentes: o que dizer dos outros povos, que vão sendo conquistados e até eliminados? Será que a Palavra de Deus nos chama a assumir o partido dos israelitas e ficar torcendo por suas vitórias, talvez até tendo um prazer secreto nos banhos de sangue que as acompanham? E onde fica Deus no meio disso?
O que está claro, ao longo da Bíblia, é que a reconciliação desejada não significa desconsiderar o pecado. Isso seria não levar a sério a maldade. E como as raízes do mal permeiam o nosso cotidiano, não há como pensar que a reconciliação possa se dar sem sofrimento, também sofrimento para nós inocente. A posição do próprio Deus em relação a isso irá aparecendo aos poucos, ao longo da narrativa.
E nem sempre fica claro se as ações foram motivadas pelo próprio Deus, ou se Deus está deixando um justo espaço de manobra às pessoas e aos povos envolvidos. No caso dos midianitas (Números 31), fala-se explicitamente de um “acerto de contas” (niqmat) dos israelitas em relação a eles. Na leitura, o melhor é ir caso a caso, prestando atenção a tudo que está envolvido nos acontecimentos.
Números 32 marca o início da distribuição da terra de Canaã entre as doze tribos de Israel. Duas tribos, os rubenitas e os gaditas, e mais meia tribo dos manassitas, pedem para ficar na Transjordânia, já que a terra era boa para criação de gado. O pedido gera uma crise entre as tribos. A crise é solucionada pela disposição destas duas tribos e meia, de participarem com as outras da tomada da terra e só então voltarem.
Em Números 32.23 encontramos uma imagem que pode iluminar a discussão destes capítulos. O nosso pecado parece ganhar vida própria, e depois sai à nossa procura. Há aqui um elemento de organicidade que deveríamos levar em conta. Nossas ações, e mesmo nossos pensamentos, passam a fazer parte de uma “ecosfera espiritual”, com consequências que podem tanto retornar a nós como inclusive atingir outras pessoas que compartilham conosco do mesmo “ecossistema”.
Dia 147 – Ano 1