Estamos chegando ao fim do livro de Números. Dois temas são repassados no final. Os dois têm a ver com a terra e com sua distribuição. O capítulo 35 é dedicado às terras dos levitas, que não recebem herança entre as tribos. Mas eles têm família, têm que viver e têm que morar em algum lugar. Assim, um certo número de cidades por todo o país é designado a eles, junto com a faixa de terra ao redor da cidade (Números 35.1-8). Cada tribo fará uma doação (v.8).
Entre as cidades dos levitas, seis terão uma condição especial. Elas são distribuídas estrategicamente ao longo do território (v.9-15). São as “cidades de refúgio”, um interessante dispositivo da legislação israelita, “para que nelas seja acolhido quem matar alguém involuntariamente” (v.15). A discussão legal que segue é para esclarecer quais casos são cobertos e quais não (v.16-29).
Por fim, há uma reflexão sobre a pena de morte em Israel (v.30-34), cuja atualidade não deveria ser desprezada. O princípio geral, por sobre todos os outros, é “quem matar uma pessoa, será morto” (v.30). Isso ecoa o grande princípio da ética israelita, o “não matarás”. Para que este princípio geral, porém, não venha a representar uma infração dele próprio, apela-se para a multiplicidade de testemunhas (v.30). Que isso pode ser desvirtuado na prática, é testemunhado várias vezes na narrativa bíblica.
O mais importante aqui é o estatuto absoluto da vida, que a lei tenta proteger. Ninguém pode tirar a vida de ninguém. O texto bíblico se coloca do lado das vítimas, um enfoque que mais e mais se perde nas discussões legais hoje. E há também uma perspectiva ecológica: “o sangue profana a terra” (v.33), que é contaminada (v.34). É como na história de Caim e Abel: o sangue da vítima clama, e clama a terra profanada pela morte do inocente (Gênesis 4.10-11). E o Deus que os criou, escuta. E também nós devemos aprender a escutar.
Dia 150 – Ano 1