Números 7 se liga diretamente ao último capítulo do livro de Êxodo. Lá se conta como a Tenda foi levantada (Êxodo 40.16-33), e como a glória divina veio morar nela (40.34-35), terminando com uma visão panorâmica de toda a peregrinação do povo pelo deserto, em sua relação com a nuvem que envolvia a glória divina (40.36-38).
Aqui em Números 7 lemos que, naquele dia, os chefes das tribos trouxeram oferendas especiais a Deus (Números 7.1-3). Foi um momento de tanto significado para os israelitas, que sua solenidade está inscrita no próprio fluir da narrativa. A cerimônia toda durou doze dias. Cada dia era o dia de uma das tribos expressar seu contentamento e seu reconhecimento a Deus, que passava a acampar junto com Seu povo.
Um a um, cada dia um, os doze chefes das doze tribos apresentam suas oferendas. A narrativa acompanha atentamente toda a solenidade, sem perder nenhum detalhe. Cada dia, uma nova tribo é apresentada. “Naassom, filho de Aminadabe, pela tribo de Judá…” (v.12). E aí vem, parte por parte, a oferenda apresentada (v.13-17). No dia seguinte, “Natanael, filho de Zuar, pela tribo de Issacar…” (v.18). E vem, parte por parte, a oferenda apresentada (v.19-23). E assim sucessivamente, até que cada tribo tivesse tido sua vez.
Para nós que lemos esse texto hoje, em outra época e em outro marco cultural, ele provavelmente soará repetitivo, pesado, “perda de tempo”. Quando paramos para pensar, começamos a perceber nessa narrativa tão lenta e repetitiva um esboço de sociedade com implicações revolucionárias. Nada de apresentar “um” como exemplo e passar rapidamente ao término dizendo algo como “e assim sucedeu com todos os outros”. Aqui não há “um” nem “outros”. Aqui cada um tem seu nome e sua vez. Cada gesto é valorizado. Mesmo que tudo se repita, cada vez é uma coisa nova. E todo mundo olhando e escutando atentamente. Essa valorização que as pessoas se concedem mutuamente, por sua vez, é reflexo da valorização que Deus concede a cada uma delas, vindo acampar com elas.
Dia 122 – Ano 1