Tente imaginar o seguinte. Sujeito vai chegando devagar num descampado plano de terra, com uma bola embaixo do braço. Para no meio do campo, dá uma olhada geral, solta a bola, deixa bater seco no chão, enfia o pé por baixo, levanta a danada, dá uns toquinhos, se embanana todo e deixa ela rolar pra longe. Corre atrás, pisa firme na redonda, endireita a coluna e vasculha o horizonte de novo. Tem alguém vindo de lá. E mais três, do outro canto. Os olhos se revezam entre a bola e os que vêm chegando. Mais umas embaixadas até que o primeiro chegue perto o suficiente. Aí mete um passe longo, que é ao mesmo tempo a confirmação do convite e uma carta de boas vindas. Os outros três chegam e também recebem a bola no pé. Tocam um pro outro, se olham, se aproximam. De repende dois pares de chinelos já estão posicionados. Os times foram divididos. A bola já está rolando. Camisa contra sem camisa. E vai-se a tarde naquela correria. Entra mais um pra cada lado. Mais dois. Junta um time de fora. Dez minutos ou dois gols. Às vezes dá uma briga, um bate-boca, é claro. Mas na tarde seguinte estão todos lá de novo, no corre-corre de sempre, com um sorrisão estampado no rosto.
Agora imagine a CBF, a FIFA, as Federações. Pense nos cartolas, nas cotas de patrocínio, nos direitos de transmissão, na compra e venda de passes, nos grandes times, nos salários faraônicos. E pode ficar por aí. Não precisa nem considerar as picaretagens e os subornos. Fique só com a burocracia e os jogos simples de poder.
Ora. Futebol não é CBF nem FIFA. Futebol é pelada! Se a CBF deixar de existir, não estará, de forma alguma, decretado o desaparecimento do futebol da face desse planeta. Será o fim do grande negócio que envolve o esporte. Será a falência de um mercado milionário. Mas a gurizada que estiver batendo bola no campo de terra estará jogando futebol, como sempre. Aliás, como antigamente. Porque futebol é praticamente uma unanimidade planetária exatamente porque é um mercado milionário. Caso contrário teria uns e outros praticantes salpicados por aí, jogando por que gostam do jogo e nada mais, como os abnegados sofredores jogadores do Rugby nacional.
Percebe onde estou tentado chegar? Não estou aqui para iniciar um movimento contra a CBF, um motim para destruir a FIFA. Não. Quero é enaltecer a pelada, o pé no chão, a bola de couro surrada e os chinelos formando traves. Quero é dizer que futebol é gostoso, é divertido, é leve, é simples, é amizade, é comunhão. É partilhar uma mesma bola com quem quer que venha chegando.
Se dois ou três estiverem reunidos em torno da bola, ali haverá futebol, independente das determinações da FIFA.
Originalmente publicado em: http://atrilha.blogspot.com.br/2012/08/igreja-cbf-ou-pelada.html
Tuco, Pensei que chegaria num momento em que você ia falar sobre a informalidade da comunhão que deve haver entre irmãos, usando uma paráBOLA; gostei do texto, do desprendimento como foi escrito etc. Cara, como ele é atual, não? CBF, FIFA, Marin, Jerome V… Associações de pastores,e.g., que tentam se estruturar, tenho visto, acabam matando a espontaneidade da comunhão, não é mesmo? Abç. Theófanes