Êxodo 23

Êxodo 23

Êxodo 22 terminou com um princípio importante para podermos entender as leis da Bíblia. “Ser santo” ou “consagrado” (22.31), aqui, vale para todos. O povo de Deus devia aprender a viver com a percepção de ter sido “separado” (esse é o sentido de “santo”), colocado numa esfera distinta. Isto pode ser entendido de vários jeitos. 

Se os israelitas entendessem que ter sido separado é um privilégio que os torna os únicos para Deus, e todo o resto deixado de lado, seria uma tragédia. E não poucas vezes eles foram tentados a isso. O povo de Deus foi separado para poder aprender tudo de novo, na escola de Deus. Aprender a ver e se relacionar com o mundo como ele é “no começo”. E como Deus quer fazer com que ele fique de novo, reconciliando-o (2 Coríntios 5.17-19). Este sempre foi o critério maior. É o critério de Jesus (Mateus 19.4,8).

O que é importante perceber é que, no mundo como ele está, tudo que Deus fez para ser junto está separado. Essa é a consequência maior do pecado, separar o que Deus quer junto. Vimos isso em Gênesis 3, com aquele fosso que foi se abrindo e separando as pessoas de si mesmas, de Deus, umas das outras, da natureza. O agir de Deus, agora, é para reconciliar, para juntar novamente o que sempre era para ser junto. Mas para isso Ele precisa, num primeiro momento, separar algumas pessoas e uma terra para que ali se aprenda tudo de novo, e que esse aprendizado seja levado, depois, para todas as pessoas e todo o mundo. 

Assim, a separação (santidade) é justamente para poder realizar a reconciliação! Mas se não houver inicialmente esta separação (santificação), e se ela não for constantemente resguardada, todo o processo está ameaçado, e o mundo fica sem esperança. Esta é a perspectiva que está por trás das leis e instruções em Êxodo 23 e ao longo da Bíblia. E vale para nós hoje: tornados santos, separados, para aprender e viver um mundo reconciliado.

Dia 76 – Ano 1

Gênesis 3.7-19

Gênesis 3.7-19

O ser humano ultrapassa o limite que Deus lhe havia colocado, e se percebe “nu” (Gênesis 3.7). Entre 2.25 (“estavam nus”) e 3.7 (“perceberam que estavam nus”) há uma distância que deve ser pensada, se quisermos conhecer a condição humana como a Bíblia a reflete. O texto marca esse distanciamento também por um jogo de palavras. Em 2.25, “nus” é arumim; em 3.7, “nus” é eirumim. Há uma diferença qualitativa entre nudez e nudez. Lá ela é natural como o ar que se respira. Aqui ela é causada. E se apresenta como não-natural, a ponto de os humanos imediatamente a esconderem.

Entre Gênesis 3.6 e 3.7 algo se rasga; e o relato que segue vai mostrando como isso assume proporções trágicas. O ser humano “abre os olhos”. Não que antes ele não enxergasse! Mas agora enxerga tudo diferente. Tudo continua o mesmo, mas tudo é radicalmente diferente. Esta é agora a condição humana, e ela persistirá por toda a narrativa bíblica, até os nossos dias.

O que o restante do capítulo descreve, é como um fosso se abrindo, desde o momento em que o ser humano infringiu a determinação divina.  O ser humano, com os “olhos abertos”, não enxerga este fosso, que é espiritual. Só é percebido numa dimensão que para ele agora se perdeu. Para poder enxergá-la, ele terá que “fechar os olhos” e deixar que eles sejam abertos novamente para as realidades espirituais. Este fosso começou a dividir, separar o que estava junto: o ser humano de si próprio (3.7), do seu próximo (3.7,12), de Deus (3.8-10),  das outras criaturas (3.15), da natureza (3.17-19).

Dia 11 – Ano 1